Um pouco sobre o conceito de ambivalência

Quando não estamos cientes de que algo nos é ambivalente, ou seja, de que temos afetos ou ideias conflitantes em relação a um mesmo objeto (seja uma pessoa, um local, uma atividade...), podemos apresentar algumas dificuldades. A forma como isso transparece é particular de cada sujeito, porém provavelmente haverá angústia e, quem sabe, algumas decisões equivocadas. No entanto, conhecer nossas ambivalências não é suficiente para lidar com elas, uma vez que o desafio é justamente suportá-las. Desse modo, geralmente suprimimos ou escondemos os afetos/idéias que se contrapõem. Quantas vezes ouvimos frases do tipo: “ou me ama ou me odeia”? “ou é tudo ou nada”? Porque é assim que funcionamos, buscamos o simples, economizamos nos processos mentais, ainda que de forma inconsciente. Por exemplo, se sentimos ódio à pessoa amada, nossa reação é fugir desse sentimento ou concluirmos que não estamos com a “pessoa certa”. Se acordamos sem vontade de ir trabalhar, surge o questionamento se devemos mudar de emprego, afinal, vivemos na lógica do 8 ou 80.

Aceitar que podemos sentir e pensar coisas opostas é um grande avanço para seguirmos um caminho que condiz mais com aquilo que desejamos. Alcançar essa maturidade psíquica requer tempo para constituirmos as condições necessárias no sentido de suportar nossas ambivalências (e cada um tem sua própria caminhada para isso). Diante dessas particularidades, não é possível criar um manual de como lidar com nossas contradições. É por isso que respostas prontas não são boas respostas, especialmente frente a conflitos ambivalentes. Porque elas excluem a possibilidade de carregarmos a angústia dos opostos na própria pele e, em decorrência disso, aceitarmos as ambivalências que nos surgem, afinal isso é aceitar nossa humanidade. Nessa jornada, encontramos nossas próprias respostas, com nossas próprias saídas criativas.

Imagem: Duas Fridas (Frida Kahlo).